Taxações políticas: quando o comércio vira tabuleiro geopolítico

O comércio internacional nunca foi neutro. E agora, mais uma vez, o Brasil está no centro de um jogo onde tarifas são usadas como instrumentos de pressão política.

As novas taxações impostas pelos Estados Unidos deixam claro: não se trata apenas de protecionismo econômico. Trata-se de um reposicionamento geopolítico. Os EUA, nosso segundo maior parceiro comercial depois da China, estão reorganizando suas prioridades. E o Brasil, mais uma vez, ficou no contrapé.

Não é de hoje que venho alertando: desde a eleição de Trump, o Brasil precisava rever sua postura estratégica. Apoiar, de forma irrestrita, temas sensíveis ao Ocidente – como a proposta de uma nova moeda pelos BRICS – sem uma diplomacia técnica e pragmática por trás, teria custo. E ele chegou.

Enquanto a Argentina buscou equilibrar relações, mantendo diálogos com EUA e Europa, o Brasil seguiu apostando todas as fichas num alinhamento ideológico com blocos alternativos, sem construir alternativas comerciais sólidas com parceiros tradicionais.

O resultado está à vista:

  1. Competitividade ameaçada – Com as novas tarifas, nossos produtos perdem espaço nos EUA. Isso abre margem para concorrentes diretos ganharem mercado.
  2. Efeito em cadeia – Exportações impactadas atingem toda a estrutura logística, armazenagem e indústria de base. Isso se traduz em aumento de custos, inflação e retração de investimentos.
  3. Isolamento estratégico – Tarifas com motivação política são mais difíceis de contornar do que disputas comerciais técnicas. E, neste momento, não temos margem de manobra diplomática.

O cenário atual:

  • Trump foi reeleito em 2024 com uma agenda protecionista clara. Seu foco é defender o agro e a indústria norte-americanos.
  • As tarifas são usadas como ferramenta de negociação política – e não comercial – o que torna o jogo mais duro.
  • Em um contexto de redesenho das cadeias globais, cada país busca ocupar espaço. Os EUA estão se posicionando. O Brasil está apenas reagindo.

O que o Brasil precisa fazer?

  • Diversificar mercados e reduzir a dependência de poucos destinos.
  • Investir em inteligência comercial e diplomacia de resultado.
  • Acompanhar com atenção o movimento das potências. O tempo da ingenuidade estratégica passou.

O agro brasileiro tem peso. Alimenta mais de 800 milhões de pessoas e responde por cerca de 25% do nosso PIB. Mas força produtiva sozinha não basta. É preciso estratégia, articulação e visão global.

As novas taxações dos EUA não são apenas números em uma planilha. São um aviso. Quem não ocupa espaço com estratégia será movido como peça por quem comanda o tabuleiro.

O agro precisa estar no centro da discussão. E não apenas como espectador.

Compartilhar:
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp